E se tentarmos?

sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Vale a pena pensar nisto...

“Se o preço do crude aumentar para além dos limites da razoabilidade financeira, um cenário provável, as economias estoiram, incluindo a nossa. Lá se vai a retoma, qualquer retoma. Estamos dependentes da situação política internacional, e estamos de mãos atadas na resolução dessa situação. Curiosamente, ninguém em Portugal parece preocupado com isto. A pequena intriga, o chiste e a pilhéria dominam a nossa politiquice, e a complexidade da situação económica mundial e das consequências da globalização, surge-nos como um problema alheio.”

In A Política do Petróleo, de Clara Ferreira Alves (n´A Cartilha)

Finalmente alguém com voz põe o dedo na ferida. Finalmente alguém comenta que a estabilidade mundial (que se é do mundo é também a nossa) está por um fio, e questiona como pode ser possivel que ninguém o veja.

Realmente, que o cidadão comum só se interesse, para além do seu próprio umbigo, pela Quinta das Pseudo-Celebridades e pelo futebol, já estamos por demais habituados. Agora, que os nossos políticos não se interessem por mais nada senão por resultados imediatos em sondagens, por descredibilizar adversários e por atirar areia para os olhos do povo, já é mais grave. Como pode vir o nosso Primeiro-Ministro dizer que vai aumentar os salários dos funcionários públicos, ao mesmo tempo que aumenta pensões e baixa IRS, e que ainda assim teremos retoma, se não faz ideia de como vão reagir os mercados aos futuros aumentos do preço do petróleo, que é tão só o alimento do mundo ocidental.

Eu sei que é gravíssimo que o Benfica tenha visto um golo possivelmente válido anulado. É uma calamidade. Mas vamo-nos abstrair destas nossas catástrofezinhas (visto que não temos furacões ou guerra ou milhões de refugiados de guerra no nosso território) e pensar numa outra situação grave: vamos imaginar, num cenário negativista, que nos deparávamos no próximo ano, por exemplo, com um choque petrolífero igual ao dos anos 70. Que fariamos? Que poderiamos fazer? Olhemos apenas para Lisboa: para a cidade não parar, para as empresas não fecharem, as pessoas iriam trabalhar na mesma. Uma percentagem dessas pessoas utiliza o automóvel diariamente para entrar na capital, 500 mil automóveis, para ser mais preciso. Como iriam? De comboio, visto que num cenário de racionamento, em que durante dois ou três dias não pudessemos abastecer os nossos fieis companheiros de quatro rodas, essa seria a melhor solução. E dariam os comboios resposta a esse aumento brusco de solicitações? E como iriamos por e buscar os nossos filhos aos colégios? Como iriamos às compras nesses dias? Sem duvida um cenário que preferimos nem considerar. No entanto, um cenário plausivel à luz dos acontecimentos actuais.

E mesmo que não haja uma necessidade de racionar os gastos de petroleo, poderá a nossa economia suportar os constantes aumentos do preço do barril? Como reagirão as pessoas a mais aumentos no preço por litro da nossa tão necessária gasolina (ou gasoleo)? E a mais um aumento nos transportes publicos? Poderá o aumento de 2,5% prometido pelo Primeiro Ministro aos funcionários publicos fazer face aos outros aumentos? Creio que está na altura dos nossos politicos largarem a sua habitual pequenez e se começarem a preocupar com assuntos realmente sérios.

Por exemplo, talvez estivesse na altura de despertarem para o facto de que o petróleo que está acabar é o petróleo Saudita, petróleo esse que abastece actualmente o mundo, enquanto as petrolíferas americanas continuam a explorar o petróleo existente em solo americano (por exemplo, no Alaska – quem não se lembra do acidente do Exxon Valdez? A Exxon é uma das principais petrolíferas americanas), ficando esse de parte, não sendo a sua maior parte utilizada. Porquê? Talvez valha a pena pensar um bocadinho nisso. Daqui a trinta anos, quando se prevê que o petróleo acabe (generalização esta que não é nada generalizada, pois o único que acaba é o Saudita), o Governo Americano terá o mundo a seus pés, pois não se prevê nos próximos trinta anos o aperfeiçoamento de nenhuma das energias alternativas ao ponto de poder passar a ser essa a dominante, em substituíção do petroleo. E o que acontecerá então? O regresso do imperialismo? O nascimento de um novo império, com uma abrangência semelhante à do império Romano, que subjugará todo o restante mundo ocidental, ao mesmo tempo que controla uma grande parte do Médio Oriente?

Talvez seja o fim do mundo professado por Nostradamus, pois é sem duvida o fim do mundo tal como o conhecemos. Será o início de uma nova Era, que teve início visível com os atentados do 11 de Setembro (pois o verdadeiro início tenha sido já à umas décadas...). Será o fim do soberanismo da UE, que começará já com a entrada da Turquia para a UE. Já agora, qual é o sentido que faz a Turquia entrar na UE? Se nem todo o território é europeu, não faz sentido nenhum. Mas esta situação há-de trazer dividendos a alguém. A quem? Talvez seja por demais obvio: a Turquia foi aliada dos EUA no ataque ao Afeganistão, pois cedeu as suas bases militares para serem utilizadas pelos aviões americanos, ao contrário da vontade manifestada por grande parte do resto do mundo. Claro que este tipo de “favores” terá de ser pago. Até porque a Turquia viu-se a braços com a entrada de milhares de refugiados de guerra, provenientes do Afeganistão. Assim, verificamos que quem está a fazer a maior pressão para que a Turquia seja um dos Estados Membros da UE é precisamente o Governo Norte Americano. E para além de um favor a um aliado, é morto um outro coelho com a mesma cajadada: ao fazer parte da UE, as fronteiras do espaço Schengen passam para lá da Turquia, o que vai permitir a entrada de todos os refugiados de guerra na Europa Ocidental. Consequentemente, a religião cristã deixará de ser a predominante na Europa, passando a discutir esse título com o islamismo. A percentagem média de desemprego na UE aumentará com a entrada da Turquia nessa contabilização.

Todos estes factores conjugados, trarão instabilidade no interior da UE, deixando esta de ser um potencial travão ao avanço desleal dos EUA face ao resto do mundo, para passar a ser apenas um cliente rico de tudo o que os americanos tiverem para oferecer (petróleo, segurança, armamento).

O que nos remete para uma temática pouco explorada, salvo nobres excepções, que é a temática do medo. Com medo cometemos loucuras, perdemos a capacidade de descernir entre certo e errado, temos atitudes que de cabeça fria não teriamos. Ora, sabendo nós que o nosso por agora seguro território estava a ser literalmente invadido, será que conseguiriamos manter a calma e o bom senso, ou teriamos, pelo contrário, a mesma reacção do povo britânico aquando do fim das colónias, que responderam com racismo, xenofobia e violência à imigração de “fugitivos” das ex-colónias? Estava o rastilho ateado para uma explosão de multiplos conflitos, naquela Europa que hoje consideramos segura... Perigoso, não é? Como diria o outro, e que o plágio me seja perdoado, vale a pena pensar nisto.