E se tentarmos?

quarta-feira, 24 de novembro de 2004

O fim das SCUTS

Cada vez me interesso menos pelos políticos, pelo que dizem e pelo que (não) fazem. Para mim, e perdoem-me a generalização, não passam de queques, enjoados, metidos aos cucus, que querem poder a qualquer custo. E até afirmo, sem medo de estar a ser injusto: são as típicas pessoas que entrariam em reality shows, pois se não obtivessem reconhecimento de outra forma, era uma hipótese que decerto considerariam.

Esta minha amarga introdução visa demonstrar o meu estado de espírito face a um tema por demais debatido à umas semanas atrás, mas que realmente, na minha opinião, devia continuar a ser debatido até haver um recuo por parte do governo (e sim, eu tenho plena noção de que isso não vai acontecer...): o fim das SCUTS.

Foi uma promessa cumprida de um anterior governo, que o actual governo quer (e vai) acabar. O argumento? Um excelente para incultos: o argumento do UTILIZADOR PAGADOR. Ora, que as estradas têm de ser pagas, é obvio. Mas vamos por partes: o que é que circula nas estradas? Hipóteses:

A – Os submarinos do Paulo Portas
B – O burro da Julia Pinheiro
C – Os automóveis de todos nós

Mesmo sem recorrer à ajuda do público nem à dos 50-50, a resposta é simples: os nossos automóveis. Baseando-me em dados do OE de 2002, o estado recolheu em dois impostos referentes aos nossos queridos popós o valor de 3 576 380 932 euros. Decompondo: 2 294 470 327 euros em Imposto Sobre Produtos Petrolíferos e 1 281 910 595 euros em Imposto Automóvel. Fora destas contas deixei ainda o Imposto de Selo e o IVA, que também pagamos. Ora, isto não dá para manter meia duzia de estradas? Este foi o meu argumento número um.

Argumento número dois: para citar apenas um exemplo, a A23 (a auto-estrada da Beira Interior, que liga Torres Novas à Guarda) foi construída em cima da estrada nacional antiga. Quer isto dizer que eliminaram as alternativas. Assim, com o fim do percurso gratuito, as populações que se viram privadas da sua velha e fiel EN, serão incondicionalmente obrigadas a pagar para poderem circular.

Argumento número três: não foi só às populações que as SCUTS serviram. Também à industria favoreceram, industria esta, que a existir, combate a desertificação do interior, pela criação de postos de trabalho. Um exemplo? A industria textil (que todos sabemos não ir de vento em popa) da zona utiliza para a alimentação das suas unidades nafta, que chega via cisterna do Porto. Aumentando o custo por quilometro, diminui a competitividade dos industriais face a concorrência estrangeira. Ora roubando vantagens aos industriais, quem os impede de irem investir em países onde as fábricas (e os postos de trabalho que daí advêm) sejam bem-vindas pelo poder político? Eu iria! E ao fecharem as industrias, para onde irão trabalhar aquelas pessoas? Boa pergunta... pena não ter resposta.

Poderia continuar a argumentar, utilizando como quarto argumento, sei lá, a menor qualidade destas estradas face a outras semelhantes (fraca qualidade esta que na altura se justificou pelo facto de ter de se poupar para que as SCUTS pudessem ser sem custos para o utilizador). Claro que face a isto o ministro António Mexia afirmou que o custo por quilómetro nas SCUTS se fixará em aproximadamente 90% do valor cobrado pela Brisa. 10% de desconto... este nosso ministro anda um mãos largas! Mas das percentagens aos euros vai um passo, e então vamos lá trocar por miúdos: a ligação entre Torres Novas e Abrantes (para continuar no exemplo da A23) vai custar entre 1.29 e 1.38 euros. Ora, atendendo a que ambas as localidades pertencem à mesma comunidade urbana, parece que está um pouco fora de preço! Comparativamente, e tomando como indicativo o valor mínimo avançado pelo minsitro, os 1.29 euros (para 27 quilómetros), é mais elevado que o valor de 1.05 euros gasto para ir de Cascais a Lisboa (23 quilómetros). E isto sem tomar em consideração que neste segundo caso, há uma alternativa, a Estrada Marginal.

Claro que estes meus argumentos caiem por terra perante o argumentos do Governo, o supra mencionada argumento do UTILIZADOR PAGADOR. Segundo palavras do ministro António Mexia, não é justo todos os portugueses pagarem estradas que apenas servem zonas específicas. E agora nem vou ser do contra! Até reconsiderei e vou dar razão ao Sr. Ministro. Não é justo realmente! Assim como não é justo todos pagarmos para os ministros terem carros fantásticos (e aqui não nos podemos esquecer do triste episódio dos ministros do Santana Lopes, que aquando da tomada de posse exigiram novos carros, alegando que governo nenhum utilizou carros de governos anteriores. Primeiro, o argumento PSD para não se fazerem eleições antecipadas foi de que o governo era o mesmo; segundo, os carros do governo anterior eram na sua grande maioria veiculos Audi A8 4.2 Quattro, com um ano de uso, que novos custam a módica quantia de 113.000euros, sem extras!) que apenas eles utilizam, não é justo todos pagarmos os acessos aos Estádios do Euro que só quem visita utiliza, não é justo todos pagarmos viagens aos ministros e respectivas famílias (se é trabalho, a família não tem de ir atrás) que apenas eles utilizam!

E já agora, não largando o argumento do ministro, porque tenho de descontar para a Caixa se só vou a médicos particulares? Porque é que o dinheiro dos meus impostos vai para o ensino se não ando na escola nem tenho filhos que andem? Porque é que o dinheiro dos meus impostos também serve para ajudar a pagar os transportes públicos se eu tenho carro próprio? Porque é que o dinheiro de todos nós financia corruptas construções de Habitação Social se eu quando quiser uma casa minha vou ter de comprar?

Bolas! Já não estou a perceber outra vez o argumento do ministro...