E se tentarmos?

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

"O grande debate político nacional", por Clara Ferreira Alves

Mentia se dissesse que não gosto dela. É uma senhora que “os” tem no sítio. Assim, mais uma vez, reproduzo uma coluna de opinião de Clara Ferreira Alves, pois concordo com muito do que ela diz. Aqui fica, retirada do Diário Digital, do seu espaço a Cartilha, “O grande debate político nacional”:

A Cartilha
O grande debate político nacional
Clara Ferreira Alves

Não há dia em que não se abra um jornal ou uma televisão e não se atinja a grandiosidade do debate político nacional. Ele é o senhor Pôncio Monteiro e os seus desaforos e desconvites, ele é o Professor Cavaco que se sente ofendido por estar num cartaz do seu partido como ex-Primeiro-Ministro, ele é o estranho caso das listas de deputados e do seu irremediável rol de inúteis, videirinhos e oportunistas, ele é o estranho caso dos cabeças-de-listas que de cabeça só têm esta (e por esmola dos donos dos partido), ele é o défice mais os putativos candidatos a resolver o problema do défice, ele é o mergulho do ministro Morais Sarmento na ilha do Príncipe como tema da semana, ele é, alargada e redonda como uma esfera vazia, a estupidez do país que temos.

Mais uma campanha eleitoral e mais um dinheirão para nos convencerem de que são uns melhores do que os outros mas, será que acreditamos que uns são melhores do que outros? No meio desta medonha incompetência e vassalagem, do desfile de figuras secundárias aprumando-se para os novos chefes e os novos empregos, o que sobra? É provável, e é certo, que existe gente competente com a noção de serviço público, é provável e é certo que alguma dessa gente seja chamada a servir mas, até agora, onde está uma ideia, um desígnio, uma atitude? Onde está, por favor, a grandeza desta política partidária?

Tudo o que vemos e lemos é o regateio de postos, as desculpas hipócritas, as vinganças servidas frias, a indexação das mediocridades do costume, as personagens menores em bicos de pés insultando e insultando-se, e Portugal reduzido a uma arena de pancadaria política de baixo tom.
Nenhum partido, até agora, apresentou uma ideia de jeito, e a campanha eleitoral vai ser isto, o trocar de trocadilhos e piadas, a brejeirice de velhos compadres que se conhecem há anos e se apertam as mãos amigas quando as luzes se apagam. Todos se atacam, e todos se governam. Protegem-se de eleição para eleição, com o cuidado de quem protege a sua obra inacabada. O debate é nulo, o verbo é deficiente, o vocabulário é insuficiente, a gramática é inexistente.

E até o professor Cavaco começa a preocupar-se com o cartaz, quando nós pensávamos que ele se preocupava com o País.

10-01-2005