E se tentarmos?

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Calma aí!!

Notícia de hoje no Portugal Diário: Bush não lamenta invasão do Iraque, em entrevista à ABC (ouvi o mesmo no Euronews, de manhã cedo). O Presidente afirma que «Aqui, nos EUA, e em todo o mundo, na ONU, muitos pensavam que Saddam tinha armas de destruição maciça»* e que «Saddam era perigoso e o mundo é agora um lugar mais seguro»*. Antes de mais, “muitos pensavam”? Desde que me conheço, sempre ouvi a expressão “a pensar morreu um burro”. E convenhamos, numa situação deste calibre, em que milhares morreram e milhões ficaram desalojados, como é que “pensaram”?! Tinham de ter a certeza, ou estou enganado?

Outra que gosto é a de que o mundo ficou um lugar mais seguro... aí, até concordo. Mas com algumas nuances... Ficou mais seguro para os EUA avançarem com a exploração do petróleo, sem o incómodo Saddam com o seu poder na região, mais os segredos que poderiam vir a lume caso este não estivesse preso e de bico calado. Ficou mais seguro especialmente por causa do que o ex-ditador poderia dizer acerca da cooperação do Iraque com Governo do Bush-Pai (esta expressão é linda... Bush-Pai... dá ares de dinastia, chique), dos testes de armas biológicas levados a cabo no território iraquiano, que causaram alguns “danos colaterais” (que é como quem diz “morreram umas centenas de inocentes, inclusivamente crianças, mas paciência”), das ligações de ambos os Bush com a família Real Saudita, da qual faz parte Osama Bin Laden (mais conhecido actualmente como o Anti-Cristo, sendo, nesta leitura, Cristo tudo aquilo que os EUA representam, evidentemente, nada tendo a ver como o Messias que veio à Terra para nos salvar), enfim, ficou tudo muito mais seguro agora que o Saddam está preso e impossibilitado de dar com a língua nos dentes.

Assim, em jeito de conclusão, podemos afirmar com certeza que o mundo dos que têm algo a esconder ficou muito mais seguro depois da invasão do Iraque. É pena é que nas palavras de George W. Bush se leia “mundo” como sendo o planeta inteiro. Ele referia-se ao “mundo” dele, aquele onde ele vive e se movimenta, que é outro mundo que não o nosso, é uma realidade distinta da do comum dos mortais. Assim, o problema é mesmo de interpretação: o mundo DELE ficou mais seguro, sem dúvida... quanto ao nosso, como diria a outra “isso agora também não interessa nada”.

* in Portugal Diário