E se tentarmos?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Há gastos explicáveis e gastos inexplicáveis

Lisete Pereira em Tribunal

Lisete Pereira senta-se hoje no banco dos réus, noticiou a SIC. A mãe de duas das vítimas do massacre do Ambriz, em Angola, responde no Tribunal de Setúbal por falta de pagamento do funeral do filho.

Depois da troca de corpos que obrigou à repetição dos funerais, Lisete entendeu que a responsabilidade no pagamento cabia, na segunda vez, ao Estado. Agora, a funerária processou Lisete por falta de pagamento.
in Correio da Manhã

Este caso, apesar de recente, já caiu no esquecimento (infelizmente, a memória colectiva é curta...). Mas apesar de não nos lembrarmos, a mãe das vítimas certamente se lembrará da dor de perder dois filhos, e do agravamento que foi na dor sentida saber que os corpos que enterrou e que chorou não eram os dos que perdeu, mas sim outros, por engano de algum funcionário do Estado Português. E teve de passar pelo sofrimento do funeral dos filhos uma segunda vez...

Não ponho em causa que estes erros não possam acontecer. Não deviam, até pelo facto de ser uma situação demasiado sensível, mas nenhum sistema é infalível, e aconteceu haver uma troca de cadáveres por parte de alguém. Há que tentar minimizar os efeitos do erro, só isso.

Se não por uma questão de assumir responsabilidades (que era o mínimo – alguém ao serviço do Estado português cometeu um erro, o Estado português devia assumir a responsabilidade que lhe compete, tomandos as medidas necessárias à resolução do problema), pelo menos por uma questão moral, não devia o Estado português assumir os custos de um funeral que foi repetido por sua culpa? Quanto custa um funeral? 1000 euros? 2000 euros? 4000 euros? Mesmo que tenha sido 5000 euros, não poderá o Estado português assumir o custo? Este é um custo para mim mais facilmente explicável que a viagem de luxo do Ministro Morais Sarmento a S. Tomé e Príncipe (que ainda por cima consta que apresentou a sua demissão por o Primeiro Ministro Santana Lopes ter considerado a situação “incómoda” – é ou não é estar a “fazer birra”? E já agora, podiam ter comentado que se descobriu recentemente petróleo extraível no mar de S. Tomé e Príncipe, e que Morais Sarmento levava uma mensagem confidencial da Galp para o Governo de S. Tomé e Príncipe... já na Idade Média os mensageiros eram bem tratados: heis o motivo do avião particular fretado e da estadia num resort de luxo) ou a multimilionária viagem do Presidente da Républica à China com uma comitiva digna de um rei (não só é a segunda visita oficial do Presidente da Républica à China, como ponho em causa os resultados que daí poderão advir – ou será que alguém pensa que por uns lambe-botas, peço desculpa, empresários portugueses irem de passeio, peço desculpa, viagem oficial, à China, que daí resultarão alguns benefícios à debilitadíssima economia portuguesa? Pelo contrário, pois li hoje num comentário à notícia do Portugal Diário que mencionava o caso da viagem do Ministro Morais Sarmento, uma estimativa de quanto poderá custar uma viagem deste calibre: cerca de dois milhões de euros. Confesso que não sei em que é que a estimativa se baseou, mas que não me custa a “engolir”, não custa... outra engraçada é que a comitiva real, peço desculpa, presidencial, chegou dois dias antes da recepção oficial. Foram para passear ou não foram?)

Mas enfim, a infeliz é que vai a tribunal...