E se tentarmos?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

Onde é que isto vai parar?

Aluno dá soco a empregada

Uma auxiliar educativa foi agredida com um soco nos lábios por um aluno, ontem de manhã, na Escola Básica 2,3, Joaquim Barros, em Paço d’Arcos, concelho de Oeiras, soube o CM junto de uma fonte policial.

In Correio da Manhã
(http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=146925&idselect=10&idCanal=10&p=94)

Este é o cabeçalho de uma notícia de hoje do Correio da Manhã. Acredito que se deve noticiar todas estas situações, pois são muito mais frequentes do que aquilo que julgamos. Aqui foi um aluno de 15 anos que deu um soco a uma funcionária de uma escola, porque ela o mandou calar, na benzoca zona de Paço D´Arcos. Outro caso que conheço passou-se à dois anos numa escola de Benfica, em que uma aluna também de 15 anos espancou uma professora, ao ponto de a mandar para o hospital. Estes são apenas dois exemplos de uma realidade que tantas vezes nos passa ao lado. E só nos passa ao lado, porque assim o desejamos. Porque, mais uma vez, temos memória curta.

Ora, actualmente, se um professor faz queixa de um aluno a um pai, este diz logo que não é possível “pois em casa ele porta-se tão bem”... ganha particular evidência o dito popular que afirma que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Mas se os papás ultra-defensores dos seus rebentos puxarem pelas cabeças, vão-se certamente recordar de que quando andavam na escola faziam muitas coisas mal que os seus próprios pais nem nunca sonhavam: falsificavam assinaturas, baldavam-se às aulas, respondiam mal aos professores, fumavam às escondidas, diziam que iam dormir para casa de amigos e depois iam sair à noite, perdendo a virgindade quando os pais ainda os julgavam meninos... o que é que acham que mudou? Será que de repente, apesar de os pais cada vez terem menos tempo para dedicar à educação dos filhos, e de se substituirem por televisão, jogos de computador, amigos, apesar de tudo isto acham que se desenvolveu uma consciência moral colectiva em todas as crianças, e que estas, mesmo sem exemplos (e já para não falar nas que ainda têm maus exemplos: é o pai que bate na mãe e depois na rua são o casal maravilha, é um dos pais que engana o outro e discutem por isso, é um dos pais que bebe... tantos exemplos maus que hoje os pais dão aos filhos...), de repente começaram a distinguir o bem do mal e a agir segundo uma ética quase kantiana? Nem por obra e graça do Espírito Santo isto ia acontecer...

Mas o engraçado é que se os pais são chamados à escola e ouvem que os seus adoraveis rebentos ofenderam ou agrediram colegas, professores ou funcionários, não só não acreditam, como em alguns casos ainda repetem as ofensas e as agressões... isto gera uma enorme impunidade, e cria nos alunos um sentimento de prepotência, que os leva a que quando crescem um bocadinho e começam a ir à discoteca, agridam os porteiros que não os deixam entrar; vão ao jogo de futebol e agridem os polícias; na estrada agridem a Brigada de Trânsito (e por agressões entendo verbais e físicas).

Tudo isto criou o sentimento em que todas as pessoas acreditam que podem tudo. O problema é que isso é impossível... então, como defesa, origina-se o sentimento actual: eu posso tudo e os outros não podem nada! São os polícias que são suspensos se agridem um criminoso, são os professores que são despedidos se se defendem de uma besta de 15 anos que lhes está a bater, são as pessoas nas lojas que não podem responder aos clientes que por sua vez se sentem no direito de lhes dizer tudo o que lhes apetece... todas as pessoas acham que têm direitos, mas se só tivermos direitos, onde é que isto vai parar?

Apenas posso sugerir que eduquemos os nossos filhos, é uma responsabilidade que é nossa, não das escolas nem da televisão. E para isso vamos ser os primeiros a dar os bons exemplos. Vamos tentar ser educados, imparciais, ponderados, simpáticos... para que através dos nossos exemplos este tipo de notícias possa passar a ser parte do passado.