"Loucura de Março"
"Todos os anos, na primavera, eu me torno vítima do que os noticiários esportivos diagnosticam de "Loucura de Março". Não consigo resistir à tentação de ligar a TV no jogo final de basquete, no qual as duas únicas sobreviventes de um torneio de sessenta e quatro equipes se encontram para a final do torneio universitário. Esse importantíssimo jogo sempre parece terminar com um garoto de dezoito anos de idade pronto para fazer um arremesso, com apenas um segundo para terminar o jogo.
Ele dribla nervosamente. Se ele perder essa jogada, sabe que será o bode expiatório do campus, o bode expiatório do seu Estado. Daqui a vinte anos estará se aconselhando para se libertar desse momento. Se fizer os dois pontos, será um herói. Sua foto estará na primeira página dos jornais. Provavelmente poderá se candidatar a governador.
Ele dribla novamente e a outra equipe pede tempo, para confundi-lo. Ele está na lateral, avaliando todo o seu futuro. Tudo depende dele. Seus colegas olham para ele, encorajando-o, mas não dizem nada.
Um ano, eu me lembro, deixei a sala para atender o telefone exatamente na hora em que o garoto se preparava para arremessar a bola. Rugas de preocupação vincavam sua testa. Ele mordiscava seu lábio inferior. Sua perna esquerda tremia na altura do joelho. Vinte mil torcedores estavam gritando, sacudindo bandeiras e lenços para distraí-lo.
O telefonema foi mais longo do que eu esperava e, quando voltei, tive uma nova visão. O mesmo garoto, o cabelo encharcado com Gatorade, estava cavalgando nos ombros dos colegas, cortando a rede de um cesto de basquete. Ele não tinha mais nenhuma preocupação no mundo. Seu sorriso enchia a tela toda.
Essas duas imagens congeladas - o mesmo garoto se encolhendo na linha lateral e, depois, celebrando sobre os ombros dos amigos - vieram simbolizar para mim a diferença entre a não-graça e a graça.
O mundo é governado pela ausência de graça. Tudo depende do que eu faço. Tenho de fazer os pontos.
O reino de Jesus nos chama para trilhar outro caminho, um caminho que não depende de nossas realizações, mas, sim, da realização Dele. Nós não temos de realizar, mas apenas seguir. Ele já ganhou para nós a preciosa vitória da aceitação de Deus.
Quando penso naquelas duas imagens, uma pergunta perturbadora penetra em minha mente: Qual dessas duas cenas se parece mais com a minha vida espiritual?"
Philip Yancey, em Maravilhosa Graça