E se tentarmos?

sábado, 27 de novembro de 2004

Com os exemplos que temos...

O nosso Presidente da República (ou o que resta dele, pois enquanto PR o Dr. Jorge Sampaio está acabado), referiu esta sexta-feira (26/11), numa conferência sobre alterações climáticas realizada na Universidade do Algarve, estar preocupado com “um gigantesco laxismo que está em todas as manifestações da vida portuguesa. Um laxismo absolutamente extraordinário e uma relativa e crescente diminuição da autoridade do Estado para o combater, seja nas multas do trânsito, seja nas multas do ambiente, seja no que for”.

Só para confirmar as minhas descofianças, fui ao dicionário ver o significado de laxismo, e confirmou-se: Laxismo – s.m. (...) tendência para fugir à lei ou aos deveres.


Ora, o Presidente da República estava mesmo a afirmar que os portugueses se esquivam ao pagamento de multas, sejam elas de trânsito ou ambientais. Realmente é chato, na medida em que se torna muito aborrecido. No entanto, eu próprio tenho de dar a mão à palmatória: de todas as multas que me foram passadas, apenas paguei uma, que me foi passada por circular sem uma luz de médios no meu automóvel. Todas as outras, na sua totalidade referentes a estacionamento, pura e simplesmente ignorei (e como é facil de calcular, para quem trabalhou em pleno Campo Pequeno durante dois anos, as multas passadas por estacionamento indevido foram mais que muitas). E porquê? Porque sempre achei que os exemplos devem vir de cima. E se não os há, o respeito vai diminuindo até acabar. Assim:

- Não tenho conhecimento que o Ministro do Ambiente tenha sido multado pela sua casa ilegal na Arrábida, nem que tenha sido acusado de corrupção e favorecimento pessoal pelo despacho que deu ao seu próprio projecto!

- Não tenho conhecimento que a ex-autarca de Sintra, Edite Estrela, tenha sido multada pela sua casa ilegal, construída em pleno pinhal do Parque Natural Sintra-Cascais, casa esta que ela própria tinha mandado embargar ao antigo proprietário, para posteriormente comprar por uma pechincha para acabar de construir!

- Não tenho conhecimento que o acidente causado por excesso de velocidade que envolveu a viatura oficial do Ministro Paulo Portas (com este a bordo) e um taxi em Oeiras, e que por sinal ocorreu a altas horas da madrugada quando nem sequer estava ao serviço do Estado, tenha resultado em qualquer multa para o Paulinho ou respectivo motorista!

- Tenho infelizmente conhecimento que, quando apanhado a 220km/h no seu Mercedes Classe E, o Director da DGV afirmou que para um carro do calibre do seu os 120km/h impostos pela lei são um valor manifestamente baixo, e que a 220km/h o seu belo automóvel mantem elevados níveis de segurança!

- Tenho infelizmente conhecimento que, quando apanhado a 170km/h no seu automóvel, o vice-director da DGV afirmou que se justificava pois ia atrasado para um compromisso profissional!

- Tenho infelizmente conhecimento que as indemnizações prometidas aos familiares das vítimas do acidente da Ponte de Entre-os-Rios ainda não foram pagas!

- Tenho infelizmente conhecimento que do acidente ambiental que originou o encerramento por mais de 10 dias da Praia do Magoito, em plena época balnear, causado por uma descarga ilegal da Câmara Municipal de Sintra, não surtiu nenhuma multa à autarquia!

- Tenho infelizmente conhecimento que, aquando de uma grande apreensão de droga na Costa Algarvia, no espaço de uma semana desapareceram 2 toneladas da droga dos armazéns da policia, sem que os responsáveis tenham sido apanhados!

Como tal, também não pago as minhas simples multas de estacionamento! Só posso dizer que, à semelhança do Jorge Sampaio, também eu estou preocupado com um gigantesco laxismo que está em todas as manifestações da vida portuguesa! Mas pudera, com os exemplos que temos...

quinta-feira, 25 de novembro de 2004

"Phantom Fury"

Refugiados de Guerra - Família de iraquianos abandona a cidade de Fallujah, no Iraque, após a violenta ofensiva militar dos EUA e das Forças Aliadas, de seu nome "Phantom Fury", que arrasou a região e causou mais de 1200 mortos entre os rebeldes, não tendo sido contabilizados, até à data, o número de mortos entre os civis.
Já antes desta ofensiva, mais de 300.000 pessoas haviam abandonado a cidade.
Organizações humanitárias foram proíbidas, durante o ataque, de distribuir comida, medicamentos e outros bens de primeira necessidade entre a população civil, deixando-os assim entregues a si próprios.

Nota: a título de curiosidade, refira-se que esta operação teve um fantástico sentido de oportunidade, já que coincidiu com o Ramadão, o que significa que os rebeldes estavam sem comer durante todo o dia, até ao pôr do sol, e como tal enfraquecidos pelo jejum obrigatório.

quarta-feira, 24 de novembro de 2004

O fim das SCUTS

Cada vez me interesso menos pelos políticos, pelo que dizem e pelo que (não) fazem. Para mim, e perdoem-me a generalização, não passam de queques, enjoados, metidos aos cucus, que querem poder a qualquer custo. E até afirmo, sem medo de estar a ser injusto: são as típicas pessoas que entrariam em reality shows, pois se não obtivessem reconhecimento de outra forma, era uma hipótese que decerto considerariam.

Esta minha amarga introdução visa demonstrar o meu estado de espírito face a um tema por demais debatido à umas semanas atrás, mas que realmente, na minha opinião, devia continuar a ser debatido até haver um recuo por parte do governo (e sim, eu tenho plena noção de que isso não vai acontecer...): o fim das SCUTS.

Foi uma promessa cumprida de um anterior governo, que o actual governo quer (e vai) acabar. O argumento? Um excelente para incultos: o argumento do UTILIZADOR PAGADOR. Ora, que as estradas têm de ser pagas, é obvio. Mas vamos por partes: o que é que circula nas estradas? Hipóteses:

A – Os submarinos do Paulo Portas
B – O burro da Julia Pinheiro
C – Os automóveis de todos nós

Mesmo sem recorrer à ajuda do público nem à dos 50-50, a resposta é simples: os nossos automóveis. Baseando-me em dados do OE de 2002, o estado recolheu em dois impostos referentes aos nossos queridos popós o valor de 3 576 380 932 euros. Decompondo: 2 294 470 327 euros em Imposto Sobre Produtos Petrolíferos e 1 281 910 595 euros em Imposto Automóvel. Fora destas contas deixei ainda o Imposto de Selo e o IVA, que também pagamos. Ora, isto não dá para manter meia duzia de estradas? Este foi o meu argumento número um.

Argumento número dois: para citar apenas um exemplo, a A23 (a auto-estrada da Beira Interior, que liga Torres Novas à Guarda) foi construída em cima da estrada nacional antiga. Quer isto dizer que eliminaram as alternativas. Assim, com o fim do percurso gratuito, as populações que se viram privadas da sua velha e fiel EN, serão incondicionalmente obrigadas a pagar para poderem circular.

Argumento número três: não foi só às populações que as SCUTS serviram. Também à industria favoreceram, industria esta, que a existir, combate a desertificação do interior, pela criação de postos de trabalho. Um exemplo? A industria textil (que todos sabemos não ir de vento em popa) da zona utiliza para a alimentação das suas unidades nafta, que chega via cisterna do Porto. Aumentando o custo por quilometro, diminui a competitividade dos industriais face a concorrência estrangeira. Ora roubando vantagens aos industriais, quem os impede de irem investir em países onde as fábricas (e os postos de trabalho que daí advêm) sejam bem-vindas pelo poder político? Eu iria! E ao fecharem as industrias, para onde irão trabalhar aquelas pessoas? Boa pergunta... pena não ter resposta.

Poderia continuar a argumentar, utilizando como quarto argumento, sei lá, a menor qualidade destas estradas face a outras semelhantes (fraca qualidade esta que na altura se justificou pelo facto de ter de se poupar para que as SCUTS pudessem ser sem custos para o utilizador). Claro que face a isto o ministro António Mexia afirmou que o custo por quilómetro nas SCUTS se fixará em aproximadamente 90% do valor cobrado pela Brisa. 10% de desconto... este nosso ministro anda um mãos largas! Mas das percentagens aos euros vai um passo, e então vamos lá trocar por miúdos: a ligação entre Torres Novas e Abrantes (para continuar no exemplo da A23) vai custar entre 1.29 e 1.38 euros. Ora, atendendo a que ambas as localidades pertencem à mesma comunidade urbana, parece que está um pouco fora de preço! Comparativamente, e tomando como indicativo o valor mínimo avançado pelo minsitro, os 1.29 euros (para 27 quilómetros), é mais elevado que o valor de 1.05 euros gasto para ir de Cascais a Lisboa (23 quilómetros). E isto sem tomar em consideração que neste segundo caso, há uma alternativa, a Estrada Marginal.

Claro que estes meus argumentos caiem por terra perante o argumentos do Governo, o supra mencionada argumento do UTILIZADOR PAGADOR. Segundo palavras do ministro António Mexia, não é justo todos os portugueses pagarem estradas que apenas servem zonas específicas. E agora nem vou ser do contra! Até reconsiderei e vou dar razão ao Sr. Ministro. Não é justo realmente! Assim como não é justo todos pagarmos para os ministros terem carros fantásticos (e aqui não nos podemos esquecer do triste episódio dos ministros do Santana Lopes, que aquando da tomada de posse exigiram novos carros, alegando que governo nenhum utilizou carros de governos anteriores. Primeiro, o argumento PSD para não se fazerem eleições antecipadas foi de que o governo era o mesmo; segundo, os carros do governo anterior eram na sua grande maioria veiculos Audi A8 4.2 Quattro, com um ano de uso, que novos custam a módica quantia de 113.000euros, sem extras!) que apenas eles utilizam, não é justo todos pagarmos os acessos aos Estádios do Euro que só quem visita utiliza, não é justo todos pagarmos viagens aos ministros e respectivas famílias (se é trabalho, a família não tem de ir atrás) que apenas eles utilizam!

E já agora, não largando o argumento do ministro, porque tenho de descontar para a Caixa se só vou a médicos particulares? Porque é que o dinheiro dos meus impostos vai para o ensino se não ando na escola nem tenho filhos que andem? Porque é que o dinheiro dos meus impostos também serve para ajudar a pagar os transportes públicos se eu tenho carro próprio? Porque é que o dinheiro de todos nós financia corruptas construções de Habitação Social se eu quando quiser uma casa minha vou ter de comprar?

Bolas! Já não estou a perceber outra vez o argumento do ministro...

O que não tem remédio...

O auto-proclamado povo mártir de Canas de Senhorim quer a elevação do seu belo lugarejo a Concelho. Não que seja uma má pretensão, podiam querer algo pior. Mas se em termos jurídico-legais Canas de Senhorim não reúne condições para tal, para quê continuar a bater no ceguinho? Que parte do “Não Dá” é que os canenses não perceberam?

O PS prometeu-lhes. Eu sei. Não cumpriu. Onde está a novidade? O Presidente Sampaio vetou. Claro! Convenhamos que abrir um precedente desta dimensão é um perigo: a pretensão de Canas baseia-se, como todos os problemas políticos, em dinheiro. Ah pois é, o povo mártir de Canas afinal é um povo ganancioso que quer os fundos monetários que são atribuídos aos Concelhos. Compreendo. Mas e se todos os lugarejos do interior se lembrassem do mesmo? Criava-se MAIS um buraco nas finanças públicas. Que já mais parecem, verdade seja dita, umas finanças no buraco público. Era quase como iniciar um pequeno fogo num cantinho de um palheiro. Era uma questão de tempo até se alastrar...

Canas está a quatro quilómetros (não, não me enganei, não é quatrocentos, nem tão pouco quarenta) da sede de Concelho. Não tem o número de habitantes nem as infra-estruturas necessárias para a elevação a Concelho. É muito aborrecido terem-lhes prometido e não ser cumprido, mas fazer o quê? Se fossemos a enumerar todas as promessas não cumpridas dos governos... é que até sabemos que os nossos políticos são como o outro, falam falam falam e não os vejo fazer nada (salvo raras excepções, que não vou aqui mencionar pois, de tão raras, não me lembro de nenhum exemplo).

Agora, um caso de loucura colectiva devia ser tratado! Dediquem-se a causas importantes, povo de Canas! Aproveitem a vida! Lembrem-se o velho ditado: o que não tem remédio... remediado está!

domingo, 21 de novembro de 2004

Declaração Portuguesa dos Direitos, Liberdades e Garantias dos Membros do «sistema»

1. Nenhum crime se aplica aos membros do «sistema».

2. Se algum crime gravíssimo - não os crimes menores como a pedofilía, mas um crime horrendo como a violação do segredo de justiça... - se verificar, todos os membros do «sistema» são, por princípio, inocentes.

3. Qualquer magistrado ou polícia que se recuse a arquivar imediatamente cabalísticas acusações contra membros do «sistema» tem de ser denunciado como criminoso nos media.

4. Em todos os alegados crimes de que seja acusado qualquer membro do «sistema», as vítimas passam a ser criminosos e os criminosos as vítimas.

5. É obrigatório publicar qualquer acusação aos inimigos de membros do «sistema».

6. É proibido difundir qualquer acusação a qualquer membro do «sistema».

7. Quem ousar passar informação, mesmo se verídica, a qualquer pasquim, acerca de alegados crimes de membros do «sistema», é preso e condenado imediatamente sem necessidade de qualquer processo judicial.

8. Os responsáveis pelos órgãos de onde provenham fugas de informação contra membros do «sistema» devem ser demitidos; aos responsáveis que tenham tutelado departamentos do Estado onde fosse impune a pedofilia, basta dizerem de que não tinham conhecimento dos crimes ou dos inquéritos que lhes hajam sido remetidos.

9. Na ausência de outro elemento factual ou argumento racional, é suficiente invocar a "estirpe moral" das vítimas de pedofilia para tornar inverosímil qualquer acusação aos honoráveis membros do «sistema».

10. No caso de serem suscitadas dúvidas de interpretação destes preceitos imperativos, deve aplicar-se o primeiro artigo.

"Como sair disto", por Vasco Pulido Valente (in Público)

Esta é a transcrição de um comentário que li e que considerei oportuno e incisivo:

"Anteontem, e não inteiramente de surpresa, o dr. Mário Soares resolveu fazer uma descrição apocalíptica do país. Disse que a democracia estava "em crise" e o regime "em degenerescência". Disse que a "corrupção" era agora pior do que durante a ditadura e que a polícia se guiava por "critérios" duvidosos. Disse que havia um risco próximo de uma "revolta incontrolável" e que só a UE impedia uma "aventura militar". E disse que tínhamos chegado à "situação mais deprimente e mais crispada" desde o "25 de Abril". Com outra brandura, Cavaco Silva declarou em Madrid que achava a política actual muito, muito pouco "atraente" e "estimulante" e até Guterres, com estranha desvergonha, a comparou a um "reality show". Por toda a parte toda a gente quer resposta a uma pergunta simples: "Como é possível que Santana e Portas governem Portugal?" E quer saber como saímos "disto". Bom ponto, esse: como saímos "disto"? Não com certeza através de Sampaio, um dos primeiros responsáveis por "isto" e hoje sem sombra de autoridade ou de prestígio. Implicitamente, Soares pede eleições e, claro, a dissolução que as deve preceder. Erro dele. Já não contando com a reviravolta de Sampaio, fatalmente favorável ao governo, seria dar a Santana o papel de vítima, em que ele exulta, e a oportunidade a Portas para levantar o fantasma da esquerda tirânica e perversa. A coligação precisa de ferver até ao fim no molho da sua própria miséria. Não vale a pena que ela acabe, se não for arrasada e, com ela, o impensável bando que a imaginou e a seguiu. Ou se limpa a casa, ou não se limpa. Ora limpar a casa exige método. Começar pelas câmaras. Pôr a seguir o prof. Cavaco em Belém (e nunca o desastroso Guterres), para devolver alguma dignidade à Presidência e para que exista uma voz superior e respeitada, e que o PSD ouça, contra a intriga e demagogia. E, no fim votar para uma maioria PS, que não é com certeza a salvação, mas que talvez traga um módico de normalidade e decência. Santana e Portas gostariam imenso de ser o centro de um melodrama nacional. Sempre viveram no melodrama e do melodrama. Mas para sairmos "disto" convém evitar qualquer espécie de messianismo à portuguesa. Basta uma oposição persistente e sólida, conduzida com inteligência e um firme desprezo. Eles tratam do resto."

sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Ele há coisas muito engraçadas...

Realmente, cada vez mais penso que é urgente uma mudança na nossa sociedade, a todos os níveis. Hoje, um amigo meu foi ao banco levantar uns pouquinhos euros que lá tinha depositado faz umas duas semanas. Mas bem, vou começar a história pelo princípio.

Há duas semanas atrás, o meu amigo foi ao BES depositar 100 euritos. Juntamente com uns 7 euros que lá tinha, e segundo a minha fraca matemática, deveria perfazer 107 euros. Este dinheiro era para pagar o seguro do carro (o seguro foi feito no BES). No balcão aceitaram o depósito, sabendo de antemão para o que se destinava. Infelizmente, parece que se esqueceram de informar o meu incauto amigo que ao contrário de todas as outras vezes (em que o pagamento foi feito por débito em conta), desta vez, devido a um atraso no pagamento (apesar do atraso, ainda estava a tempo de pagar, como lhe foi informado no balcão), o pagamento teria de ser feito via cheque ou vale de correio.

Porreiro da vida, e acreditando ter a sua situação regularizada, o meu amigo descansou-se em relação a este assunto.

Qual não é o seu espanto quando, duas semanas mais tarde, recebe uma carta do BES a informar que, por falta de pagamento, o seu seguro automóvel havia sido cancelado (resolvido, segundo a gíria bancária). O meu amigo foi logo ao balcão para lhe explicarem o sucedido, e só então soube da obrigatoriedade do pagamento via cheque. Logo aí, adorou não ter sido informado, como se depreende, mas ainda ficou mais satisfeito com o que viria a seguir: ao pedir para levantar os seus 107 euros, entregaram-lhe pouco mais de 70 euros. O motivo? Simples! 8 euros de pagamento por levantar no balcão mais 22 por gestão de conta (gestão esta tão bem feita que nem sequer o informaram que não podia depositar o dinheiro do seguro). Heeellooooo!! Até as mentes menos iluminadas conseguem somar 22 com 8. É fácil de ver onde está o resto do dinheiro, não entendo o espanto do meu amigo...

Enfim, mais um cliente bem servido!

Não basta os bancos ganharem dinheiro por nos fazerem empréstimos (o que para mim é justo, visto que se emprestam têm de ganhar com isso) e ganharem dinheiro por utilizarem o dinheiro que lá depositamos para negócios próprios (o que também é justo, visto que se o guardam, têm de ganhar com isso); não, ainda temos de lhes pagar por gestões (mal feitas, diaga-se) de contas, por anulamentos de conta (quando é para abrir é só facilidades) e por mantermos contas a zero – é que os bancos são como eu, odeiam pobres!

Mas também uma coisa é certa: apesar de tudo, temos de nos calar e redermo-nos ao sistema, pois se não utilizarmos os bancos, por exemplo, nunca poderemos comprar casa. Assim, vamos engolindo uns sapos... não deixa de ter uma pontinha de ironia.

Outra boa relativa a bancos aconteceu-me a mim à 2 anos, quando comprei o meu azarado e mal-fadado jipe (quem me conhece sabe do que estou a falar). Na assinatura do contrato, fui informado de que estava a decorrer uma promoção, e que quem fizesse o crédito pelo BPI tinha direito a um ano de sócio do ACP grátis. No final desse ano seria contactado via carta para ser questionado se queria continuar a ser sócio ou não. Assim, aceitei a promoção, e para ser sócio do ACP bastou-me preencher um impresso bastante simples, em que me pediam os dados do costume: nome, morada, telemóvel e número de BI. Até aí tudo bem.

Deixou de estar tudo bem quando passado o tal ano, recebi a dita correspondência do ACP e li o seu conteúdo. Não só ninguém me perguntava se eu queria ou não continuar a ser sócio, como ainda dizia que já me tinham debitado da conta (que nem sequer é BPI!) o dinheiro referente à anuídade do ano que se seguia. Foi divertido saber que os meus dados bancários saltitam alegremente de empresa em empresa, sem eu sequer ser informado. Mais giro ainda foi ter de andar a gastar dinheiro em telefonemas e faxes para poder ser ressarcido do dinheiro que não tinha autorizado que me fosse debitado.

E é este o dia-a-dia da classe-média tuga!

Vale a pena pensar nisto...

“Se o preço do crude aumentar para além dos limites da razoabilidade financeira, um cenário provável, as economias estoiram, incluindo a nossa. Lá se vai a retoma, qualquer retoma. Estamos dependentes da situação política internacional, e estamos de mãos atadas na resolução dessa situação. Curiosamente, ninguém em Portugal parece preocupado com isto. A pequena intriga, o chiste e a pilhéria dominam a nossa politiquice, e a complexidade da situação económica mundial e das consequências da globalização, surge-nos como um problema alheio.”

In A Política do Petróleo, de Clara Ferreira Alves (n´A Cartilha)

Finalmente alguém com voz põe o dedo na ferida. Finalmente alguém comenta que a estabilidade mundial (que se é do mundo é também a nossa) está por um fio, e questiona como pode ser possivel que ninguém o veja.

Realmente, que o cidadão comum só se interesse, para além do seu próprio umbigo, pela Quinta das Pseudo-Celebridades e pelo futebol, já estamos por demais habituados. Agora, que os nossos políticos não se interessem por mais nada senão por resultados imediatos em sondagens, por descredibilizar adversários e por atirar areia para os olhos do povo, já é mais grave. Como pode vir o nosso Primeiro-Ministro dizer que vai aumentar os salários dos funcionários públicos, ao mesmo tempo que aumenta pensões e baixa IRS, e que ainda assim teremos retoma, se não faz ideia de como vão reagir os mercados aos futuros aumentos do preço do petróleo, que é tão só o alimento do mundo ocidental.

Eu sei que é gravíssimo que o Benfica tenha visto um golo possivelmente válido anulado. É uma calamidade. Mas vamo-nos abstrair destas nossas catástrofezinhas (visto que não temos furacões ou guerra ou milhões de refugiados de guerra no nosso território) e pensar numa outra situação grave: vamos imaginar, num cenário negativista, que nos deparávamos no próximo ano, por exemplo, com um choque petrolífero igual ao dos anos 70. Que fariamos? Que poderiamos fazer? Olhemos apenas para Lisboa: para a cidade não parar, para as empresas não fecharem, as pessoas iriam trabalhar na mesma. Uma percentagem dessas pessoas utiliza o automóvel diariamente para entrar na capital, 500 mil automóveis, para ser mais preciso. Como iriam? De comboio, visto que num cenário de racionamento, em que durante dois ou três dias não pudessemos abastecer os nossos fieis companheiros de quatro rodas, essa seria a melhor solução. E dariam os comboios resposta a esse aumento brusco de solicitações? E como iriamos por e buscar os nossos filhos aos colégios? Como iriamos às compras nesses dias? Sem duvida um cenário que preferimos nem considerar. No entanto, um cenário plausivel à luz dos acontecimentos actuais.

E mesmo que não haja uma necessidade de racionar os gastos de petroleo, poderá a nossa economia suportar os constantes aumentos do preço do barril? Como reagirão as pessoas a mais aumentos no preço por litro da nossa tão necessária gasolina (ou gasoleo)? E a mais um aumento nos transportes publicos? Poderá o aumento de 2,5% prometido pelo Primeiro Ministro aos funcionários publicos fazer face aos outros aumentos? Creio que está na altura dos nossos politicos largarem a sua habitual pequenez e se começarem a preocupar com assuntos realmente sérios.

Por exemplo, talvez estivesse na altura de despertarem para o facto de que o petróleo que está acabar é o petróleo Saudita, petróleo esse que abastece actualmente o mundo, enquanto as petrolíferas americanas continuam a explorar o petróleo existente em solo americano (por exemplo, no Alaska – quem não se lembra do acidente do Exxon Valdez? A Exxon é uma das principais petrolíferas americanas), ficando esse de parte, não sendo a sua maior parte utilizada. Porquê? Talvez valha a pena pensar um bocadinho nisso. Daqui a trinta anos, quando se prevê que o petróleo acabe (generalização esta que não é nada generalizada, pois o único que acaba é o Saudita), o Governo Americano terá o mundo a seus pés, pois não se prevê nos próximos trinta anos o aperfeiçoamento de nenhuma das energias alternativas ao ponto de poder passar a ser essa a dominante, em substituíção do petroleo. E o que acontecerá então? O regresso do imperialismo? O nascimento de um novo império, com uma abrangência semelhante à do império Romano, que subjugará todo o restante mundo ocidental, ao mesmo tempo que controla uma grande parte do Médio Oriente?

Talvez seja o fim do mundo professado por Nostradamus, pois é sem duvida o fim do mundo tal como o conhecemos. Será o início de uma nova Era, que teve início visível com os atentados do 11 de Setembro (pois o verdadeiro início tenha sido já à umas décadas...). Será o fim do soberanismo da UE, que começará já com a entrada da Turquia para a UE. Já agora, qual é o sentido que faz a Turquia entrar na UE? Se nem todo o território é europeu, não faz sentido nenhum. Mas esta situação há-de trazer dividendos a alguém. A quem? Talvez seja por demais obvio: a Turquia foi aliada dos EUA no ataque ao Afeganistão, pois cedeu as suas bases militares para serem utilizadas pelos aviões americanos, ao contrário da vontade manifestada por grande parte do resto do mundo. Claro que este tipo de “favores” terá de ser pago. Até porque a Turquia viu-se a braços com a entrada de milhares de refugiados de guerra, provenientes do Afeganistão. Assim, verificamos que quem está a fazer a maior pressão para que a Turquia seja um dos Estados Membros da UE é precisamente o Governo Norte Americano. E para além de um favor a um aliado, é morto um outro coelho com a mesma cajadada: ao fazer parte da UE, as fronteiras do espaço Schengen passam para lá da Turquia, o que vai permitir a entrada de todos os refugiados de guerra na Europa Ocidental. Consequentemente, a religião cristã deixará de ser a predominante na Europa, passando a discutir esse título com o islamismo. A percentagem média de desemprego na UE aumentará com a entrada da Turquia nessa contabilização.

Todos estes factores conjugados, trarão instabilidade no interior da UE, deixando esta de ser um potencial travão ao avanço desleal dos EUA face ao resto do mundo, para passar a ser apenas um cliente rico de tudo o que os americanos tiverem para oferecer (petróleo, segurança, armamento).

O que nos remete para uma temática pouco explorada, salvo nobres excepções, que é a temática do medo. Com medo cometemos loucuras, perdemos a capacidade de descernir entre certo e errado, temos atitudes que de cabeça fria não teriamos. Ora, sabendo nós que o nosso por agora seguro território estava a ser literalmente invadido, será que conseguiriamos manter a calma e o bom senso, ou teriamos, pelo contrário, a mesma reacção do povo britânico aquando do fim das colónias, que responderam com racismo, xenofobia e violência à imigração de “fugitivos” das ex-colónias? Estava o rastilho ateado para uma explosão de multiplos conflitos, naquela Europa que hoje consideramos segura... Perigoso, não é? Como diria o outro, e que o plágio me seja perdoado, vale a pena pensar nisto.

Para os momentos mortos do dia

Este é um site de que eu gosto muito. Informação muito bem apresentada, opiniões fundamentadas e temas sem dúvida interessantes. Se tiverem um tempinho livre, naveguem pelo:

http://www.klepsidra.net/novaklepsidra.html

O Egoísmo

“Afirmar que os seres humanos podem determinar a sua própria evolução é pôr a vontade de Deus fora do esquema. Isso contribui para que as pessoas sejam egoístas e vivam separadas umas das outras. Acabam por pensar que o importante é a sua própria evolução e não o plano de Deus.Vão-se tratar umas às outras pior do que se tratam agora.”

in a Profecia Celestina, de James Redfield

A Igreja sempre passou a mensagem de que tanto o que já passou como o que está para vir depende exclusivamente da vontade de Deus. Durante séculos, esta ideia prevaleceu, sendo que para muitos fiéis cristãos ainda hoje é aceite.

No entanto, desde o fim da Idade Média, que a nossa civilização, aquela de que guardamos memórias¹, vem alterando esta forma de pensamento. Para isso, tem procurado respostas em relação ao nosso lugar no mundo. Procurou-as por não estar satisfeita com as respostas até então aceites, aquelas que advinham todas da mesma fonte: Deus.

O Homem apercebeu-se que podia ele próprio controlar os elementos, as matérias, as doenças, pelo que questionou o papel da Igreja. Assim, com o aparecimento do conhecimento e método cientificos, o Homem “inventou” uma nova religião, que se prestou a tentar dar resposta a todos os mistérios que nos assolavam.

Porém, essas tão ambicionadas respostas tardaram em chegar (se formos a ver, ainda não as temos), pelo que, gradualmente, foram sendo esquecidas. Este esquecimento originou a implementação de novos valores, que são os pais dos valores que hoje regem o mundo: o Poder, o Dinheiro, que degeneraram em Egoísmo e Ganância.

Hoje em dia, é comum dizer-se “sou livre de fazer o que quero” ou “o importante é o ordenado”. Sendo os valores materiais os mais importantes aos olhos da nossa sociedade actual, o excesso de aparente liberdade de que dispomos apenas potencia esta situação. O Egoísmo e a Ganância entranharam-se na grande maioria dos seres humanos. O problema, é que não se entranharam apenas nos cidadãos comuns, mas também em grandes centros de poder.

Resultado desta situação, são todas as guerras que vêm sendo travadas com segundas intenções, mostrando um total e inequívoco desrespeito pela vida humana. Exemplos? Há-os em demasia... e não é necessário recuar até épocas passadas, basta falar do presente. Quem viu o Farenheit 9/11 decerto se recordará da passagem que menciona o quão conveniente foi o bombardeamento de certas zonas do Afeganistão, para a construção de um oleoduto que trará lucros a alguém, infelizmente não ao povo que teoricamente seria o dono dessas terras. Depois do bombardeamento, as obras puderam ter início, pois uma grande parte do trabalho, que seria abrir caminho para a passagem dos canos, já estava adiantada. Mais exemplos? A vontade assumida pelos EUA de tirar do poder o ditador Saddam Hussein, com a intenção declarada de devolver o poder ao povo (gesto nobre, este), que passado mais de um ano, ainda não o recebeu. No entanto, como consequência indirecta (será?), os novos ditadores (porque não há duvidas de que o poder, ao não ter sido passado para as mãos do povo, foi tomado por um novo regime ditatorial, que nem sequer pretende que todas as zonas do Iraque votem para a eleição do novo governo, suportando esta decisão no facto dessas regiões estarem ainda conturbadas, pelo que foi assim considerado que se estas regiões – outrora em paz – não conseguem resolver os seus conflitos, não estão em condições de votar num pretenso regime democrático – isto sim é democracia) não só assumiram o controlo do petróleo existente no país, como também ganharam um bode espiatório (outrora um aliado importante) para o todo mal que foram fazendo ao longo de duas décadas. Mais uma vez, quem devia ter ganho com a situação, os habitantes locais, só perdeu...

Assim, urge instituir um novo tipo de luta, uma jihad contra o Egoísmo e o Cinismo vigentes. Luta esta que não deverá ser travada com recurso às armas e à violência, mas sim com recurso à mudança de mentalidades, com um abrir de olhos geral, que despertará gradualmente as pessoas para a realidade, da qual temos andado todos alheados, devido ao nosso materialismo e egoísmo.

Durante anos, não quisémos nem saber dos problemas dos outros, preocupados que andavamos com os nossos trabalhos frustrantes, com a aquisição dos nossos automóveis problemáticos e das nossas casas medíocres. Mas acredito que estamos a chegar a um ponto, em que todos começaremos a despertar para a realidade. A venda que nos foi colocada nos olhos, tendencialmente desaparecerá. Porque andamos, na nossa grande maioria, descontentes com as nossas vidas, questinamos as nossas decisões passadas, não gostamos do rumo que as nossas vidas tomaram. A felicidade, paz de espirito e harmonia que ambicionámos estão longe de terem sido atingidas.

A juntar a isso, vamo-nos apercebendo de que as doenças da sociedade, em vez de assistirmos à sua cura, continuam a lavrar, ceifando almas que não se quiseram agarrar à vida. Talvez se acreditassem haver um sentido para a sua existência... exemplos, infelizmente, cada vez temos mais: os street racers, que continuam a correr e a morrer por uma dose de adrenalina; as drogas, cujo consumo não diminui; os comportamentos de risco nas estradas que apesar de mutilarem familias, alterando destinos, não param de aumentar...

Assim, impõe-se criar uma nova consciência colectiva, que possa sanar os nossos problemas. E quais serão os valores base desta nova consciência? Basicamente, serão os mesmos que estão na base de todas as religiões do mundo: o respeito pelo próximo (mesmo que o próximo seja diferente de nós) e uma coexistência pacífica entre as pessoas. Aqui, poderá haver quem argumente que as próprias religiões incitam às guerras, ao desentendimento e ao preconceito. Discordo, quem a isto incita são pessoas que se aproveitam das crenças de fiéis, orientado-as em proveito próprio.

Teremos de confiar nas nossas intuíções, confiar em nós próprios (capacidade que praticamente eliminámos, pois delegámos a função de sermos respeitados ao nosso emprego, ao carro que conduzimos e ao local onde moramos), e acreditar que o que damos recebemos em troca. Podemos ter preconceito em relação à família de negros que vive no nosso prédio, que ao sentir-se ostracizada não terá qualquer problema em nos incomodar. Pois se já partimos do principio que se vão comportar erradamente, não se sentirão na obrigação de nos provar o contrário. Mas se, por outro lado, os respeitarmos como nossos semelhantes (que são!), para se integrarem no microcosmos que os acolheu (neste caso um prédio) sentirão a necessidade de não rejeitar o respeito e (porque não?) o amor que receberam. Assim, retribuirão.

Outra forma de mudança passa por educarmos as nossas crianças também como nossos semelhantes. É um lugar comum, mas as crianças são efectivamente o nosso futuro. Assim, porquê passar anos a tratá-las como se não percebessem as coisas? Porquê passar anos a mentir-lhes acerca de assuntos que certamente compreenderiam, desde que lhes fossem transmitidos de uma forma acessível e inteligível para a idade? Voltamos então à questão do respeito. Se os pais tratam as crianças como seres inferiores, não podemos esperar que estas cresçam sentindo confiaça em si próprias e seguras de si. O que origina os tão falados comportamentos de risco, que pura e simplesmente passam por uma necessidade de afirmação face à forma como são tratados. Fumam para se sentirem crescidos, experimentam drogas para se sentirem integrados, e esparvoam com os pais e professores para se imporem enquanto seres humanos, que pensam e existem! A solução para todos estes problemas passa não por reprimendas (pois como o próprio nome diz, pretendem reprimir, quando o que os seres humanos necessitam é de crescer e se expandir), mas sim por respeitar, passa por amar. E mais uma vez, aquilo que damos, receberemos em troca.

Talvez seja então altura de abrirmos os olhos, retirarmos o filtro do politicamente correcto e socialmente aceite que nos minou a percepção do mundo, e permitirmos serem o respeito e o amor a conduzir a nossa existência. Só desta forma poderemos ambicionar evoluir enquanto seres humanos, sentindo-nos de novo (ou finalmente) integrados na realidade, pois se cada geração deve representar um passo em frente em relação à que a antecedeu (esta sim é a nossa missão, a nossa razão de existir), então acredito que o passo que nos compete (o que representa efectivamente uma evolução em relação à situação anteriror) será indubitávelmente o de potenciar uma coexistência pacífica entre todos indivíduos, em todos os locais. Imaginem o que teriamos a ganhar...
Imagine all the people
Sharing all the world...
You may say I'm a dreamer,but Im not the only one,
I hope some day you'll join us,
And the world will live as one
¹ Pois, porque não nos podemos esquecer que pelo simples facto de quase todos os registos históricos de que dispomos dessa época se reportarem à nossa sociedade (à Europa, citando os exemplos da Inquisição e dos Descobrimentos), em todo o resto do mundo, e em simultaneo, os dias continuavam a passar, familias continuavam a crescer, religiões e crenças a se desenvolverem, toda uma história paralela que apenas nos vai sendo contada fragmentada se ia desenrolando. Daqui se depreende ser prepotência nossa querer que apenas a nossa História e os nossos conceitos sejam válidos.